quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


A fuligem da raiva

O pequeno Zeca entra em casa, após a aula, batendo forte os seus pés no assoalho da casa. Seu pai, que estava indo para o quintal fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo chama o menino para uma conversa.

Zeca, de oito anos de idade, o acompanha desconfiado. Antes que seu pai dissesse alguma coisa, fala irritado:

- Pai estou com muita raiva. O Juca não deveria ter feito comigo.

Desejo tudo de ruim para ele.

Seu pai, um homem simples mas cheio de sabedoria, escuta, calmamente, o filho que continua a reclamar:

- O Juca me humilhou na frente dos meus amigos; não aceito; gostaria  que ele ficasse doente sem poder ir à escola.

O pai escuta tudo calado enquanto caminha até um abrigo onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino o acompanhou, calado.

Zeca vê o saco ser aberto e antes mesmo que ele pudesse fazer uma  pergunta, o pai lhe propõe algo:

- Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu amiguinho Juca e cada pedaço de carvão é um mau

pensamento seu, endereçado a ele. Quero que você jogue todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou.

O menino achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra. O varal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertavam o alvo.

Uma hora se passou e o menino terminou a tarefa. O pai que espiava tudo de longe, se aproxima do menino e lhe pergunta:

- Filho como esta se sentindo agora?

- Estou cansado mas estou alegre porque acertei muitos pedaços de  carvão na camisa.

O pai olha para o menino, que fica sem entender a razão daquela  brincadeira, e carinhoso lhe fala:

- Venha comigo até o meu quarto, quero lhe mostrar uma coisa.

O filho acompanha o pai até o quarto e é colocado na frente de um grande espelho onde pode ver seu corpo todo. Que susto! Só se conseguia enxergar seus dentes e os olhinhos.

O pai, então, lhe diz ternamente:

- Filho, você viu que a camisa quase não se sujou; mas, olhe só para

você. O mau que desejamos aos outros é como o que lhe aconteceu. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com nossos pensamentos, a borra, os resíduos, a fuligem ficam sempre em nós mesmos.

domingo, 15 de janeiro de 2012


Partidas coletivas

No cair da tarde chuvosa do dia 17 de julho de 2007, em São Paulo, no Aeroporto de Congonhas, um desastre aéreo abalou a opinião pública e deixou um saldo de duas centenas de mortos.

A comoção atingiu patamares internacionais, vez que, entre os passageiros daquele voo estavam estrangeiros, tanto quanto pelo elevado número de vítimas.

Estima-se seja um dos desastres aéreos com maior número de vítimas.

Logo, começaram a ser transmitidas, junto com o dantesco espetáculo do fogo, das explosões que se sucediam, as cenas de desespero de parentes das vítimas.

Uns gritavam pelos nomes dos que haviam partido, dilacerados de dor. Outros, já clamavam por justiça, invocando direitos e normas não respeitados.

Por fim, um ou outro, abraçava-se, aliviado, ao familiar que deveria estar naquele voo, mas foi desviado para outro, pelos motivos mais diversos.

Depoimentos de quem se zangou por ter perdido o voo e agora, agradecia por não estar nele.

Informações desencontradas, esforço hercúleo de bombeiros para o resgate, trabalho de repórteres, jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos...

Mais uma tragédia que nos leva a indagar: Por que permite Deus tais acontecimentos tão trágicos?

Por que um voo de pouco mais de hora, realizado com sucesso, se transforma numa tragédia na chegada? Na hora do pouso?

Naturalmente, as autoridades competentes levantarão dados e se descobrirá, quem sabe, se a culpa foi da chuva torrencial, da pista do Aeroporto, de problema mecânico, de falha humana...

Mas, a indagação persiste: Por quê?

Por que jovens cheios de sonho tiveram sua vida ceifada desta forma? Por que pessoas que retornavam aos braços de seus amores morrem desta forma?

Por que tudo acontece, assim, sem a derradeira possibilidade de um abraço de despedidas? Por quê?

Se Deus é amor, por que permite tais acontecimentos que destroçam famílias e destroem vidas felizes?

Tudo na Criação é harmonia. Tudo revela uma previdência que não se desmente, nem nas menores, nem nas maiores coisas.

As grandes partidas coletivas estão na pauta da Justiça Divina. Ninguém recebe algo que não deva.

Desta forma, tragédias desse porte reúnem Espíritos que têm comprometimentos para com a Lei Divina.

Recambiados para o Mundo Espiritual, de forma brusca, ressarcem o que devem à Lei.

As famílias que sofrem as dores superlativas estão envolvidas no mesmo processo.

Nada de errado, portanto, se pensarmos na Justiça Divina que a cada um dá segundo as suas obras.

E que, conforme o preceito evangélico, a semeadura é livre, mas a colheita se torna obrigatória.

Contudo, se a Justiça Divina age, também Sua Misericórdia se estende.

E, os que cremos na vida além da vida, temos a certeza de que todos os Espíritos que pereceram no desastre aéreo, receberam apoio espiritual.

Seus anjos de guarda, enviados de Deus, os ampararam no trânsito desta para a vida verdadeira.

Aos que permanecemos na carne, aguardando o nosso momento da partida, cabe-nos orar pelos que se foram. Pelos que ficaram.

Pelos corações de mães destroçados, pelos cônjuges feridos, pelos órfãos, pelos enamorados, pelos amigos, por todos os que sofrem a ausência dos amores.

E, enquanto aguardamos a própria partida, orarmos ainda mesmo por nós, para que, em chegada a hora, estejamos a postos e preparados.

Seja a partida pelos braços da enfermidade, de forma lenta.

Ou de forma repentina, por acidente orgânico, meteorológico ou qualquer outro.

Aprendendo a desprender-se

Bonnie precisou ser internada duas semanas antes do natal, para uma cirurgia, e estava muito preocupada. Além dos quatro filhos para cuidar, ela pensava nas compras, presentes e enfeites a providenciar.

Quando abriu os olhos depois de ter dormido grande parte dos dois dias no hospital, após a cirurgia, olhou ao redor e viu algo semelhante a uma floricultura.

Buquês de flores se enfileiravam sobre o parapeito da janela. Cartões se empilhavam sobre a mesinha de cabeceira. Na prateleira, acima da pia, havia uma dúzia de rosas vermelhas enviada por seus pais, que moravam em outro estado.

O marido lhe disse que os amigos haviam preparado refeições para a família e se ofereceram para cuidar das quatro crianças.

Mais flores, disse a enfermeira, entrando no quarto e interrompendo os pensamentos da convalescente.

Ela abriu espaço entre as demais flores, para colocar outro belo arranjo colorido.

Acho que vamos ter de mandar a senhora para casa, disse sorridente. Não temos mais espaço aqui.

Enquanto Bonnie lia os cartões, ouviu alguém dizer: gostei das flores.

Era a companheira de quarto. Uma mulher de mais ou menos 40 anos, portadora de síndrome de Down.

Ginger gostava de falar e não se cansava de dizer que estava ali para que o doutor desse um jeito no seu pé. Contou que morava em companhia de outras pessoas e desejava voltar a tempo para poder participar da festa de natal.

Enquanto Ginger foi para a cirurgia, Bonnie ficou olhando o quarto. O seu lado estava florido. O lado de Ginger, nada. Nenhum cartão, nenhuma flor, nenhuma visita.

Vou oferecer a ela algumas de minhas flores, pensou.

Foi até a janela e escolheu um arranjo de flores vermelhas. Mas daí recordou que o arranjo ficaria muito bonito em sua mesa de natal.

E as justificativas continuaram: as flores estão começando a murchar, a amiga que ofereceu ficaria ofendida, poderia enfeitar a casa com aquele arranjo.

Resultado: ela não conseguiu repartir nenhuma. Voltou para a cama e pensou que no dia seguinte, quando a loja abrisse, iria pedir para que entregassem algumas flores a Ginger.

Ginger voltou da cirurgia e uma funcionária do hospital lhe trouxe uma guirlanda de belas flores e a pendurou acima da sua cama.

Logo após o café, na manhã seguinte, a enfermeira retornou para dizer a Ginger que ela iria para casa. A condução estava a caminho para buscá-la.

Ela ficou feliz pois chegaria a tempo para participar da festa de natal. Arrumou as suas coisas enquanto Bonnie se entristeceu. A floricultura do hospital só iria abrir dali a duas horas.

Será que ela deveria oferecer uma das suas flores?

Ginger vestiu seu casaco, sentou-se na cadeira de rodas para ser conduzida pela enfermeira. Quando estava na porta, pediu para voltar, como se estivesse esquecido algo.

Foi até sua cama, apanhou a guirlanda, aproximou-se de Bonnie e, levantando-se com certa dificuldade, a abraçou, deixando o enfeite em seu colo.

Depois, se foi.

Enquanto ela saía do quarto, Bonnie não conseguiu dizer nada.

Segurou a pequena guirlanda nas mãos, com os olhos úmidos. O único presente de Ginger e ela o tinha oferecido à companheira de quarto.

Então Bonnie entendeu que Ginger possuía muito mais coisas do que ela mesma.

***

Há muita gente escravizada ao que não tem e muita alma livre do que possui.

Verifique onde você se enquadra e busque se transformar em anjo da ação bem dirigida, convertendo o que lhe chegue às mãos em bênçãos e alegrias mantenedoras da vida.

Arrependimento e ação

Dentre as emoções mais amargas sentidas pelos seres humanos está o arrependimento.

Ele chega tardiamente, embrulhado em sombras, trazendo o amargo do fel.

Insinua-se como tóxico penetrante, quando não irrompe desgovernado, produzindo desastre...

Nunca antecipa sua presença mas, quando chega, mata a esperança, subjuga a coragem e vence a resistência.

É útil para despertar a consciência e desastroso para a convivência demorada, porque destrói a vida.

Assim, o arrependimento deve ser aproveitado, pela alma que o sente, para elevar-se acima da sua influência perniciosa.

Quando a luz do arrependimento se acende na consciência culpada, esta visualiza, com nitidez, os desatinos cometidos e se julga irremissivelmente perdida.

Mas o arrependimento, ao contrário do que se pensa, é bênção que enseja ao arrependido maturidade e convite à reparação.

É a porta que se abre para que a alma equivocada busque o acerto e se renove para Deus.

Assim, se o arrependimento nos visita, não façamos dele motivo para o desalento.

O agricultor desavisado, que semeia espinhos ao invés de boas sementes, ou desleixado, que permite o alastramento das ervas daninhas, quando se dá conta de que sua lavoura corre perigo, não pode ficar se lamentando, de braços cruzados.

Ao contrário, deve agir rapidamente para recuperar o tempo perdido.

Começa por arrancar os espinheiros e limpar o eito. Depois é tempo de preparar o solo e lançar sementes que produzam bons frutos.

Jesus, profundo conhecedor dos mapas que norteiam a intimidade dos seres, ensinou-nos como proceder quando visitados pelo arrependimento: Tomar do arado, e não olhar para trás.

Um exemplo célebre na História do Cristianismo é o de Maria de Magdala.

Mulher jovem e bonita, se comprazia nos prazeres efêmeros e vazios. Mas, quando vislumbrou uma proposta de felicidade efetiva, refez as metas, fortaleceu os ânimos e seguiu com coragem.

Não ficou isenta das consequências dos atos pretéritos, mas não vacilou ante o campo que o Mestre lhe ofereceu para ser joeirado.

O profeta Ezequiel escreve, no Antigo Testamento, que o desejo do Criador não é a morte do ímpio, mas a eliminação da impiedade.

Mas para que haja a eliminação da impiedade é preciso que o ímpio caia em si, qual filho pródigo e volte-se para o Pai.

Assim, se o arrependimento bater nas portas da nossa consciência, acolhamo-lo com a tranquilidade de quem reconhece que se equivocou, mas que deseja, sinceramente, refazer a lição com acerto.

* * *

Para evitar arrependimentos futuros convém que façamos, no momento presente, o melhor que estiver ao nosso alcance.

A consciência é guia seguro para nortear nossas atitudes, uma vez que nela estão inscritas as Leis Divinas.

A arte de ouvir

Ela era uma senhora solitária, envolta no luto da dor, desde que o marido morrera. Vivia só, na grande casa do meio da quadra. Casa com varanda e cadeira de balanço.

Todas as manhãs, o entregador de jornais, garoto de uns 10 anos, passava pedalando sua bicicleta e, num gesto bem planejado, atirava o jornal nos degraus da varanda.

Nunca errava. Paff! Era o sinal característico do jornal caindo no segundo degrau.

Então, numa manhã de inverno, quando se preparava para lançar o jornal, ele a viu.

Parada nos degraus da varanda, de pé, acenando-lhe para que se aproximasse.

Ele desceu da bicicleta e foi andando em direção a ela. O que será que ela quer? - Pensou o garoto. Será que vai reclamar de alguma coisa?

Venha tomar um café, falou a senhora. Tenho biscoitos gostosos.

Enquanto ele saboreava o lanche que lhe aquecia as entranhas, ela começou a falar.

Falou a respeito do marido, de suas vidas, da sua saudade. Passado um quarto de hora, ele se levantou, agradeceu e saiu. No dia seguinte e no outro, a cena se repetiu.

O menino decidiu falar a seu pai a respeito. Afinal, ele achava muito estranha aquela atitude.

O pai, homem experiente, lhe disse: Filho, ouça apenas. A senhora Almeida deve estar se sentindo solitária, após a morte do marido.

Deixe-a falar. Recordar os dias de felicidade vividos deve lhe fazer bem ao coração. É importante que alguém a ouça.

Nos dias que se seguiram, nas semanas e nos meses, o garoto aprendeu a ouvir, demonstrando interesse em seus olhos verdes e espertos.

Quando a primavera chegou, ela substituiu o café quentinho pelo suco de frutas. O verão trouxe sorvete.

Ao final, o entregador de jornais já iniciava sua tarefa pensando na parada obrigatória em casa da viúva. Habituou-se a escutar e escutar. Percebeu, com o tempo, que a velha senhora foi mudando o tom das conversas.

Como a primavera, ela voltou a florir, nos meses que vieram depois.

Quando o ano findou, o menino foi estudar em outra cidade.

O tempo se encarregaria de lecionar mais esperança no coração da viúva e amadurecer ideias no cérebro jovem.

Muitos fatores contribuíram para que o garoto e a viúva não tornassem a se encontrar. Contudo, uma lição o acompanhou por toda a vida. Ele nunca se esqueceu da importância de ouvir as pessoas, suas dificuldades, seus problemas, suas queixas.

Lição que contribuiu também para o seu sucesso como esposo, pai de família e profissional.

* * *

Saber ouvir é uma virtude. De um modo geral, nos cumprimentamos, perguntando uns aos outros, como está a saúde e a dos familiares.

Raramente esperamos por uma resposta que não seja a padrão: Tudo bem.

Normalmente, se o outro passa a desfiar o rosário das suas dores e a problemática da família, nos desculpamos apontando as nossas obrigações e quefazeres.

Entretanto, quando nos sentimos tristes, desejamos ardentemente que alguém nos ouça, que escute a cantilena das nossas mágoas.

Pensemos nisso. Mas pensemos agora, enquanto ainda nos encontramos a caminho com nossos irmãos, na estrada terrena.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012


A FÁBULA DA ÁGUIA E DA GALINHA


Esta é uma história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, James Aggrey, nos inícios deste século, quando se davam os embates pela descolonização. Oxalá nos faça pensar sempre a respeito.

"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.
Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.

Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.
- Não, retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
 O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.
O camponês sorriu e voltou a carga:
- Eu havia lhe dito, ela virou galinha!
- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a  águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e
dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.
Foi quando ela abriu suas potentes asas.
Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto.
Voou. E nunca mais retornou."
Existem pessoas que nos fazem pensar como galinhas. 
E ainda até pensamos
que somos efetivamente galinhas. 
Porém é preciso ser águia. 
Abrir as asas e voar. 
Voar como as águias. 
E jamais se contentar com os grãos que jogam aos pés para ciscar.”  

A Escolha  é  nossa...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012


As horas iniciais após o suicídio


Uma das situações mais dolorosas que o ser humano pode enfrentar em sua estada na Terra é quando se depara com a morte de algum ente querido. A morte, por si só, já causa sofrimento a todos que mantiveram contato com aquela criatura que desfalece.

Ressalta-se que o sofrimento pode ser ainda maior para aqueles que detêm laços de família com quem acaba de desencarnar. Agora, existe uma situação ainda pior do que a morte natural: ver-se em presença do suicídio de algum familiar.

Segundo o Espírito Camilo Cândido Botelho[1] “em geral aqueles que se arrojam ao suicídio, para sempre esperam livrar-se de dissabores julgados insuportáveis, de sofrimentos e problemas considerados insolúveis pela tibiez da vontade deseducada, que se acovarda em presença, muitas vezes, da vergonha do descrédito ou da desonra, dos remorsos deprimentes postos a enxovalharem a consciência, conseqüências de ações praticadas à revelia das leis do Bem e da Justiça”.

Camilo, que um dia já foi classificado como réprobo na ordem de elevação dos Espíritos e hoje se encontra radiante de luz, explica com maestria, por experiência própria, o que se passa na mente da criatura que atenta contra sua própria vida. Porém, uma indagação permanece, o que acontece logo em seguida a este ato?

O próprio Espírito Camilo Cândido confessa e, com isso, esclarece[2] que “a linguagem humana ainda não precisou inventar vocábulos bastante justos e incompreensíveis para definir as impressões absolutamente inconcebíveis, que passam a contaminar o ‘eu’ de um suicida logo às primeiras horas que se seguiram ao gesto brutal de que usei, para comigo mesmo, passaram-se sem que verdadeiramente eu pudesse dar acordo de mim. Meu Espírito, rudemente violentado, como que desmaiara, sofrendo ignóbil colapso. Os sentidos, as faculdades que traduzem o ‘eu’ racional, paralisaram-se como se indescritível cataclismo houvesse desbaratado o mundo, prevalecendo, porém, acima dos destroços, a sensação forte do aniquilamento que sobre meu ser acabaram de cair. Fora como se aquele estampido maldito, que ate hoje ecoa sinistramente em minhas vibrações mentais -, sempre que, descerrando os véus da memória, como neste instante, revivo o passado execrável – tivesse dispersado uma a uma as moléculas que em meu ser constituíssem a Vida! (...). O suicida, semi-inconsciente, adormentado, desacordado sem que, para maior suplício, se lhe obscureça de todo a percepção dos sentidos, sente-se dolorosamente contundido, nulo, dispersado em seus milhões de filamentos psíquicos violentamente atingidos pelo malvado acontecimento. (...) perde-se no vácuo...ignora-se”.

Como se vê, o Espiritismo levanta o véu existente entre os que aqui ficaram, repentinamente desassistidos, e o dito réprobo através das comunicações que chegam diariamente de além-túmulo em todos os cantos do Planeta Terra. A meu ver, esta é um dos compromissos, sim podemos chamar de compromisso, mais belos da Ciência Espírita.

Ainda, Allan Kardec não poderia ser mais claro do que foi na obra O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo quando alertou[3] que “não há, sob o aspecto da natureza e da duração do castigo, nenhuma regra absoluta e uniforme; a única lei geral é que toda falta recebe sua punição, e toda boa ação e sua recompensa, segundo o seu valor”.

Tomando-se essa inserção por norte chegaremos fatalmente a conclusão de que nada passa longe dos olhos de Deus, nenhum ato, bom ou ruim, salutar ou enfermo, avarento ou caridoso.

Dessa forma, é lógico que o suicida, o réprobo, logo nas primeiras horas do ato maldito sofrerá as suas consequências nos moldes da lição dada pelo Espírito Camilo e é justo que assim seja aos olhos do Criador. Mas por certo que Deus não abandonará seu filho, porém, estas são cenas para os próximos capítulos.

Como será o desenrolar deste réprobo com base na obra O Céu e o Inferno de Allan Kardec? Isto nós veremos juntos no desenrolar de nossas publicações.

No entanto, resta aqui o alerta para nos mantermos sempre em oração, principalmente em momentos que enfrentamos extremas dificuldades. Não percamos a fé na inteligência suprema e causa primária de todas as coisas.

Por fim, não pode se deixar de referir que a prática da prece faz com que mantenhamos nossa energia elevada e assim não ofereçamos vazão a orientações malévolas de irmãos menos adiantados nas escalas de evolução, além de ser um ato de amor.

 
José Artur M. Maruri dos Santos

sábado, 7 de janeiro de 2012


PRÉ-OCUPAÇÃO


"...Observai os pássaros do céu: eles não semeiam nem colhem..." "...Observai como crescem os lírios dos campos: eles não trabalham nem fiam..." "... não estejais inquietos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal". (Cap. XXV, ítem 6)

A estratégia da preocupação é nos manter distantes do momento presente, imobilizando as realizações do agora em função de coisas que poderão ou não acontecer. Desperdiçamos, por consequência, tempo e energias preciosas, obcecados com os eventos do porvir, sobre os quais não temos qualquer tipo de comando, pois olvidamos que tudo que podemos dirigir é somente nossas próprias vidas.

São realmente diversas as preocupações sobre as quais não temos nenhum controle: a doença dos outros, a alegria dos filhos, o amor das pessoas, o julgamento alheio sobre nós, a morte de familiares e outras tantas. Podemos, porém, nos "pré-ocupar" o quanto quisermos com essas questões, que não traremos a saúde, a felicidade, o amor, a consideração ou mesmo o retorno à vida, porque todas elas são coisas que fogem às nossas possibilidades.

Outra questão é quando passamos por enormes desequilíbrios pelo desgaste emocional de nos ocuparmos antes do tempo certo com coisas e pessoas, o que ocasiona insônias, decepções e angústias pelo temor antecipado do que poderá vir a acontecer no amanhã.

Não confundamos "pré-ocupação" com "previdência", porque se preparar ou ser precavido para realizar planos para dias vindouros é tino de bom senso e lógica; mas prudência não é preocupação, porque enquanto uma é sensata e moderada, a outra é irracional e tolhe o indivíduo, prejudicando-o nos seus projetos e empreendimentos do hoje.

Nossa educação social estimula o vício do "pensamento preocupante", principalmente no convívio familiar, onde teve início o fato de relacionarmos preocupação com "dar proteção". Passamos a nos comportar afirmando: "Lógico que eu me preocupo com você, eu o amo" "Você tem que se preocupar com seus pais", "Quem tem filhos vive em constante preocupação".

Pensamos que estamos defendendo e auxiliando os entes queridos, quando na verdade estamos confinando-os e prejudicando-os por transmitir-lhes, às vezes, de modo imperceptível, medo, insegurança e pensamentos catastróficos.

"Não estejais inquietos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta seu mal". O Criador provê suas criaturas suas criaturas com o necessário, porquanto seria impossível a Natureza criar em nós uma necessidade sem nos dar meios para suprí-la. "Vede os pássaros do céu, vede os lírios dos campos".

Além do mais, pedia-nos que fizéssemos observações de como a vida se comporta e que deixássemos de nos "pré-ocupar", convidando-nos a olhar para nossa criação divina que a todos acolhe.

O Mestre queria dizer com essas afirmativas que tudo o que vemos tem ligação conosco e com todas as partes do Universo e que somos, em realidade, participantes de uma Natureza comum.

As mesmas causas que cooperam para o benefício de uns cooperam da mesma forma para o de outros. Quando há confiança, existe fé; e é essa fé que abre o fluxo divino para a manutenção e prosperidade de nossa existência, dando-nos juntamente a proteção que buscamos em todos os níveis de nossa vida.

Hammed

O Concílio de Constantinopla – 553 D.C.

Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.

Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.

É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.

E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e Malaquias 4:5 ).

Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vaga-lumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".

E os vaga-lumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.
Vivaldo J. de Araújo